Descobrindo os encantos do interior cearense
Passar alguns dias em Cumbuco é, por si só, uma delícia. O ritmo tranquilo, as dunas douradas e o vento constante fazem dessa pequena vila de pescadores reformada um paraíso para amantes do kitesurf e do descanso à beira-mar. No entanto, quem, como eu, tem o espírito aventureiro e deseja explorar além da areia e do mar, vai se surpreender com as opções incríveis de bate-voltas saindo de Cumbuco rumo ao interior do Ceará.
Essas escapadas rápidas revelam paisagens inesperadas, tradições ricas e uma cultura vibrante que pulsa forte fora da rota turística comum. Prepare-se para estradas de terra, comida boa, encontros genuínos e cenários que parecem saídos de um filme. Aqui estão algumas das melhores aventuras que vivi e recomendo com entusiasmo!
Lagoinha, uma praia com alma de serra
Sim, Lagoinha ainda é considerada litoral, mas o clima por lá já começa a ter aquele toque do interior cearense. A cerca de duas horas de carro de Cumbuco, esse vilarejo charmoso combina falésias avermelhadas com um mar verde-esmeralda. O lugar é famoso pelo visual panorâmico e pelos passeios de pau de arara – caminhões adaptados que nos levam para dentro das trilhas, entre coqueirais e mirantes escondidos.
Uma das experiências mais memoráveis que tive foi o passeio até a Lagoa das Almécegas. A sequência barco, buggy e caminhão me fez sentir como se estivesse em uma expedição cinematográfica. A lagoa é perfeita para relaxar sob redes submersas e para petiscar pratos regionais à base de peixe e camarão fresquinho.
Guaramiranga: um pedaço da serra entre nuvens
Essa foi uma das minhas maiores surpresas e, certamente, um dos meus lugares preferidos no Ceará. Guaramiranga está localizada no Maciço de Baturité, a aproximadamente 3 horas de Cumbuco. É um refúgio verde, fresco e perfumado, cercado pela Mata Atlântica preservada – um verdadeiro oásis serrano no meio do Nordeste.
O clima ameno convida à caminhada pelas trilhas ecológicas, visitas a orquidários e, claro, a saborear as delícias da culinária serrana, como o tradicional café com bolo de milho servido nas varandas coloniais. Para quem curte cultura, a cidade abriga o Festival de Jazz e Blues durante o Carnaval, oferecendo uma alternativa sofisticada ao agito litorâneo.
Se você busca um refúgio romântico ou apenas deseja descansar em uma pousada charmosa envolta pela natureza, Guaramiranga é uma escolha certeira.
Canindé: fé, cultura e devoção
Minha visita a Canindé foi marcada por emoção e aprendizado. Este é um dos maiores centros de peregrinação do Brasil, dedicado a São Francisco das Chagas. A cidade está a cerca de 2 horas e meia de Cumbuco e o clima ali é diferente – não só pela temperatura, mas pela energia das pessoas e das ruas movimentadas pelo turismo religioso.
A basílica impressiona por sua arquitetura e pelo fluxo constante de fiéis. Mesmo fora do período oficial da romaria, a cidade tem uma vibração intensa, com lojinhas vendendo arte sacra, velas, terços e imagens religiosas de todos os tipos. Independentemente da sua crença, esse é um lugar que nos conecta com algo maior.
Retiro das Águas: um turismo rural encantador
Dirigindo por estradas secundárias e vilarejos simples, encontrei o que chamo de « verdadeiro tesouro escondido »: pequenas propriedades familiares abertas ao turismo rural. O Ceará tem diversas fazendas que oferecem vivências autênticas, e uma que recomendo especialmente é o Retiro das Águas, no município de Maranguape.
Ali, participei de uma roda de conversa sobre a produção de rapadura artesanal, caminhei entre plantações de banana, cana e milho, além de saborear pratos preparados com ingredientes colhidos na hora, como o baião-de-dois com queijo coalho grelhado, servido com suco de umbu.
O silêncio da mata, o canto dos passarinhos e a hospitalidade dos moradores me fizeram lembrar das minhas viagens de infância ao interior. É ideal para um bate-volta sem pressa, daqueles que alimentam o corpo e a alma.
Hospedagens que valem a viagem
Para quem quiser esticar o bate-volta e aproveitar a noite no interior, há ótimas opções de hospedagem que se destacam pelo charme e pela integração com a natureza. Aqui vão algumas sugestões:
- Refúgio Patuá (Guaramiranga): Chalés aconchegantes em meio à mata nativa, perfeitos para casais. O café da manhã é servido com produtos locais e muito carinho.
- Pousada Mirante da Lagoinha (Lagoinha): Vista espetacular da falésia, piscina com deck e bangalôs com rede na varanda.
- Fazenda Flor de Cacto (Maranguape): Estadia sustentável com experiências rurais e culinária caseira.
- Hotel São Francisco (Canindé): Localizado a poucos passos da basílica, é simples mas confortável, ideal para quem participa das romarias.
Como organizar seu bate-volta
Independente do destino escolhido, vale planejar o bate-volta com antecedência – especialmente se for por conta própria. A maioria dos caminhos exige disposição para dirigir por estradas irregulares e, em alguns casos, pouca sinalização. Aqui vão minhas dicas práticas que sempre sigo:
- Saia cedo de Cumbuco, por volta das 7h, para aproveitar melhor o dia.
- Leve água, protetor solar e calçado confortável.
- Prefira veículos com tração ou alugue com motorista local se preferir segurança.
- Fale com moradores sobre dicas e atualizações das rotas – as comunidades têm o melhor GPS que conheço!
- Leve dinheiro em espécie; muitos lugares não aceitam cartão.
O interior cearense é uma caixinha de surpresas, e o melhor é que ele está ao alcance de quem escolhe Cumbuco como base. Entre uma velejada e outra, dedique um dia (ou mais!) para explorar esses recantos que ganham o coração de quem se permite sair da rota principal. Eu, Tessa, sigo explorando esse Brasil profundo, e posso garantir: há sempre algo mágico a nos esperar após a próxima curva da estrada.
